A Atração Do Escrúpulo
O escrúpulo é comum entre os jovens de hoje devido a uma desconexão entre o ideal de santidade e a realidade da vida de virtude.
Parece que minha geração está passando por uma epidemia de escrúpulo. Para aqueles que não estão familiarizados com o termo, o escrúpulo é uma forma de transtorno obsessivo-compulsivo - TOC - que é principalmente religiosa, em que há obsessões e compulsões. Porém, no escrúpulo, as obsessões e compulsões são religiosas.
Ao contrário do TOC, o escrúpulo envolve um intenso moralismo ligado a essas ações. A pessoa não só precisa agir, mas se não agir, ela se sente como se tivesse pecado. Ela precisa rezar o terço uma vez por dia ou estará pecando. É preciso beijar a Bíblia antes e depois da leitura, caso contrário, estará pecando. Precisam inclinar a cabeça sempre que ouvirem o nome do Senhor, caso contrário, estarão pecando.
A ideia de um Deus amoroso e misericordioso é estranha à experiência do escrupuloso. Deus pode ser totalmente amoroso, mas se eu não fizer essas coisas, Ele me condenará. Deus deixa de ser um Pai que ama a todos e passa a ser um tirano exigente que deve ser obedecido.
Nada disso é para culpar as ações de rezar o terço, beijar a Bíblia ou inclinar a cabeça ao ouvir o nome do Senhor. Essas ações são boas, santas e provedoras de mérito; mas a pessoa escrupulosa se vê oprimida por essas coisas, em vez de ser levada ao amor de Deus – aquele amor que é o fim de todas essas ações.
Por que o escrúpulo é tão comum entre os jovens atualmente? Acho que ela está ligada a uma desconexão entre o ideal de santidade e a realidade da vida de virtude. Se o céu é nossa meta, como se chega lá? Seja santo. Incrível! Como se faz isso? Viva uma vida virtuosa. Ótimo! Como é isso? Consulte a vida dos santos. Pra lá de incrível! Mas eles são todos tão diferentes, como posso me tornar um santo em minhas circunstâncias? Seja santo.
John Senior (1) afirmou que a família vem se desfazendo porque cortamos os fios que a ligavam às comunidades contemplativas. Há uma realidade espiritual nisso, mas quero me concentrar na realidade cultural. Não sabemos como viver uma vida humana saudável. Dizem que devemos ser santos, e isso é bom, mas como viver uma vida virtuosa se não sabemos como ela é? Precisamos de modelos vivos e reais de uma vida bem vivida.
A razão pela qual a Europa conseguiu se tornar tão integrada à fé foi o fato do camponês comum ter um exemplo vivo e real de santidade em seu quintal. O mosteiro era uma escola de vida e, se o camponês não pudesse se tornar um monge, ele ainda poderia se beneficiar da imitação daqueles santos que ali viviam. Se não houvesse um mosteiro por perto, os padres seculares faziam retiros nesses mosteiros para aprender essa vida e levá-la aos camponeses em suas regiões.
Não se trata de um pensamento ingênuo de que apenas o fato de ser monge torna uma pessoa santa, ou que todos os monges são perfeitamente virtuosos. Não, mas se alguém dedicou sua vida ao hábito da virtude, então posso presumir que ela sabe mais sobre como viver virtuosamente do que eu, simplesmente porque passou mais tempo trabalhando nisso.
Nossos pais nunca foram ensinados a viver uma vida saudável e santa e, portanto, nunca nos ensinaram. Nossos pastores nunca foram ensinados, então como podemos esperar que eles ensinem? Os fios da cultura que ligavam o mosteiro à vida da família precisam ser restabelecidos. Os órfãos devem se voltar para a escola da vida, os mosteiros, para reaprender a viver. Os pais precisam ser capazes de olhar para seus pastores, e os pastores devem se voltar para os monges.
Precisamos de párocos santos para orientar nossa paróquia local. Precisamos de irmãs religiosas santas e ativas para ensinar e fazer boas obras. Precisamos desses exemplos de atividade santa, mas só os teremos se eles se unirem aos contemplativos e aprenderem a viver a vida de virtude.
Em última análise, minha geração é escrupulosa porque nos falam sobre as glórias do Céu, mas tememos perdê-las por não conhecermos o caminho. Fazemos o melhor que podemos para juntar as peças por nós mesmos, mas isso não substitui um pai que nos educa para a santidade. Precisamos conhecer o Caminho! Precisamos conhecer Cristo na carne, e precisamos de testemunhas vivas para trazê-Lo até nós. "A colheita é grande, mas os operários são poucos."
Precisamos de santos! Precisamos de modelos vivos e reais de santidade que possamos experimentar na carne. É maravilhoso ter heróis. O Cardeal Sarah é fantástico, D. Strickland é o máximo e o Pe. Gregory Pine é muito legal. Mas precisamos ser pessoalmente gerados e criados para a santidade. Precisamos ver como alguém é santo na realidade temporal, na sujeira e na lama de nossa situação. O amor não surge por meio de uma tela de computador. Não se aprende santidade em um livro. Uma pessoa conhece a outra em um encontro pessoal, o amor cresce ombro a ombro. A santidade floresce em uma vida simples vivida com grande amor.
Nossos sacerdotes precisam correr para os mosteiros! Aprendam a vida e a tragam para casa. Bebam profundamente das fontes de São Bento, São Bruno e Santa Teresa de Ávila. Não é mais suficiente ler suas obras. Precisamos ver a vida deles. Não precisamos de mais catequese; precisamos de mais santidade! Chega de teologia, precisamos de virtude! Aprendam a viver uma vida de amor e nos amem - pois "o perfeito amor lança fora o medo", e nós temos muito medo.
Autor: JohnMark Cayer
Original em inglês: Crisis Magazine
Nota:
(1) - Prof. John Senior foi professor em várias universidades norte-americanas nas cadeiras de literatura clássica e língua inglesa. Após ser perseguido e expulso do ambiente de trabalho, formou o Programa de Humanidades Integradas onde ensinou incontáveis jovens e proporcionou muitas vocações religiosas. Os dois livros principais de sua trajetória são uma fotografia do que estudou e viveu. Prof. John Senior escreveu o diagnóstico (Morte da Cultura Cristã) e o remédio (Restauração da Cultura Cristã)