12 Maneiras De Superar Uma Consciência Escrupulosa

12/08/2022

Em sua origem etimológica, "escrúpulo" denomina a pedrinha que incomoda quando está dentro do sapato. Vem do latim "scrupulus", diminutivo de "scrupus", (pedra pequena e pontiaguda). Característica de ser extremamente minucioso e cuidadoso no cumprimento de uma tarefa. Dizer "ter escrúpulos" significa ter dúvidas de consciência sobre o caráter correto ou incorreto de algo que fizemos.

A boa notícia é que a escrupulosidade não é incompatível com a santidade. Mais uma boa notícia é que a doença pode ser superada. Aqui estão 12 dicas para fazer isso.

A maioria de nós experimentou escrúpulos em nossa vida espiritual e alguns de nós os achamos espiritualmente incapacitantes. Santo Inácio de Loyola define escrúpulo como "quando eu livremente imagino que é pecado aquilo que não é pecado". A consciência escrupulosa vê pecado onde não há.

Devemos distinguir isso de uma consciência sensível ou terna. Uma consciência terna é uma consciência verdadeira. É sensível às ocasiões de pecado venial. Por exemplo, evita sempre falar contrário ao que se acredita ser verdade, mesmo em pequenas questões, as chamadas "mentiras brancas". Evita assistir a programas de televisão que desrespeitam o Senhor, seus mandamentos ou a Igreja, porque não se quer as imagens e blasfêmias em sua mente. Ele se abstém de negatividade, especialmente ao falar sobre outras pessoas que não estão presentes.

Uma consciência escrupulosa é uma consciência errônea. Preocupa-se com coisas que não são pecaminosas. Os escrupulosos preocupam-se de que suas orações sejam inadequadas, que Deus os ame, não os perdoe, que esteja zangado com eles, seja indiferente ao seu bem-estar ou mesmo que Ele não exista. Eles se preocupam que Deus os esteja punindo e freqüentemente têm uma preocupação mórbida com o inferno. Temem estar possuídos pelo diabo ou fazendo coisas que se abrem para o diabo. Eles podem experimentar fixação em números, geralmente números com significado religioso, como três ou sete. Obcecados em fazer o que é certo, eles podem achar a tomada de decisões paralisante: malditos se o fizerem e malditos se não o fizerem. Eles se repreendem quando imagens sexuais passam por suas mentes e sentem uma auto-aversão especial quando os pensamentos envolvem figuras religiosas como Nossa Senhora ou Jesus. Eles carregam um sentimento penetrante de culpa, o sentimento de ter pecado.

Alguns psicólogos caracterizam a escrupulosidade como uma expressão do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Os escrupulosos experimentam um pensamento intrusivo (obsessivo) - digamos, que Deus está zangado com eles. Para diminuir a tensão, realizam rituais religiosos como repetir uma oração, confessar-se, fazer o sinal da cruz ou bater três vezes. Porém, sentem que suas orações ou comportamentos não são suficientes, por isso repetem os rituais, compulsivamente. Carregam sua escrupulosidade no sacramento da confissão, confessando coisas que não são pecaminosas ou pecados que já confessaram. Experimentam alívio por um tempo, depois voltam ao pensamento desordenado. Sentem constantemente a necessidade de garantir que tudo o que estão fazendo está certo: Isso foi ok? Fiz a coisa certa? Eu pequei mortalmente?

A amarga ironia é que uma preocupação desproporcional em evitar o pecado pode inclinar a pessoa a certos pecados: desespero, aversão e fuga de coisas ou pessoas espirituais, descuido com a oração, preocupação com atividades mundanas, abandono da fé cristã.

Os programas de 12 passos, tão valiosos para ajudar as pessoas a superar a escravidão aos vícios, estão cheios de pessoas que se referem a si mesmas como "católicos em recuperação" - pessoas que perceberam que a culpa religiosa infundada era parte de seu problema. Mas ao invés de lidar com sua religiosidade obsessiva, muitos abandonam a fé. Eles culpam a religião, não sua patologia.

A boa notícia é que a escrupulosidade não é incompatível com a santidade. Alguns de nossos santos mais reverenciados lutaram com os escrúpulos: St. Afonso Liguori, St. Inácio de Loyola, St. Teresa de Lisieux e St. Faustina Kowalska

Mais uma boa notícia é que a doença pode ser superada. Eu ofereço os seguintes 12 conselhos para superar uma consciência escrupulosa.

1. Reconheça que você é escrupuloso, que frequentemente realiza rituais incomuns para "se acertar" com Deus, que luta para ver a verdade moral claramente, especialmente quando se trata de sua própria tomada de decisão. Reconhecer que você tem uma doença espiritual é o primeiro passo para superá-la.

2. Busque a ajuda de um bom confessor - alguém que seja fiel à verdade católica e em cujos julgamentos você confie. E fique com ele. Não salte de confessor em confessor. Se depois de algum tempo você descobrir que o conselho ordinário oferecido pelo seu confessor não resolve o seu problema, você deve encontrar um terapeuta católico fiel para ajudar com os elementos da condição para os quais um padre não está treinado para cuidar.

3. Resolva aceitar os julgamentos de seu confessor ou terapeuta sobre seus próprios padrões distorcidos. Não se trata de um voto de obediência; é simplesmente uma ferramenta prática e pode ser interrompida a qualquer momento. Mas confiar em pessoas confiáveis, que modelam uma consciência saudável, pode nos ajudar a emular uma medida moral correta para julgar entre pecado, tentação e patologia.

4. Observe o exemplo de outros cristãos bons e saudáveis. Siga seus exemplos como uma norma confiável para si mesmo: o que é certo para eles geralmente será certo para você.

5. Resista corajosamente à tentação de agir compulsivamente para aliviar as tensões causadas pelo escrúpulo. Especialmente resista à tentação de confessar o mesmo pecado duas vezes.

6. Se você estiver em dúvida se pecou, você deve desconfiar de seu próprio julgamento e concluir provisoriamente que não pecou. Depois pergunte ao seu confessor. Se a sua dúvida deriva de uma deficiência catequética, pergunte, novamente, ao seu confessor se a sua escolha foi errada e aceite o seu julgamento. Resista à compulsão de confessar pecados duvidosos.

7. Se você estiver em dúvida se consentiu com maus pensamentos, novamente, conclua que não houve consentimento. As tentações persistentes e obsessivas não são pecaminosas. É somente quando identificamos um momento em que certamente consentimos em entreter ou ter prazer nos pensamentos que devemos nos arrepender.

8. Se você duvida se sua confissão foi suficientemente completa, pode concluir que foi. Se você esquecer alguns pecados veniais, tudo bem. Não há obrigação de confessar o pecado venial. Além disso, o pecado venial pode ser perdoado de muitas maneiras fora da confissão: atos que conferem graça, por exemplo, a recepção da Sagrada Comunhão ou o sacramento dos enfermos; atos que impliquem aversão ao pecado, como bater no peito ou recitar o Pai Nosso; e atos de reverência a Deus, como a aspersão de água benta (ver São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, Tertia Pars, Q. 87, Art. 3). A menos que você esteja consciente de uma escolha clara de não confessar algum pecado que seja certamente mortal, você poderá receber a absolvição com confiança e ter a certeza de que "a absolvição tira o [seu] pecado" (Catecismo da Igreja Católica, 1459).

9. Se você duvida se estava suficientemente contrito no confessionário, pode tomar o fato de ter se confessado como prova de arrependimento suficiente.

10. Esforce-se para manter em mente a verdade de que Deus o ama. Lembre-se frequentemente de sua misericórdia, generosidade e bondade. Repita para si mesmo que ele recebe você livremente e sempre perdoa seu pecado mesmo com sua escrupulosidade.

11. Se quiser escrever em um cartão pequeno e guardar com você - melhor ainda, guardar na memória - as grandes palavras de São Paulo em Romanos 8, 35, 38-39:

Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? ... Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor.

12. Sempre que tiver sucesso nessa área, observe seu comportamento - aprenda o que você fez, como se sentiu e tente agir da mesma forma no futuro. O objetivo é vir a confiar em seus próprios julgamentos.

Uma nota final para os pais devotos. Os pais religiosos podem não prestar atenção suficiente aos sinais de escrupulosidade em seus filhos porque estão ocupados em apreciar de forma prazeirosa a religiosidade de seus filhos. A escrupulosidade pode se manifestar tão cedo quanto 5-7 anos de idade. Mesmo antes da idade da razão, hábitos podem se formar e se manifestar na infância e na idade adulta jovem, o que pode distorcer a experiência da religião e impedir a transição necessária da fé infantil para a fé adulta, que geralmente começa durante a puberdade.

Não desconsidere a máxima espiritual: pais escrupulosos criam filhos escrupulosos. E mais tarde, quando perceberem que seus sentimentos de culpa não eram razoáveis, correm o risco de se tornar "católicos em recuperação".

Autor: E. Christian Brugger

Original em inglês: National Catholic Register