10 Coisas Que Se Deve Saber Sobre Os Salmos

26/07/2025

A palavra "Salmo" vem da palavra grega para "canção" (psalmos), que por sua vez é uma tradução da palavra hebraica para canção ou melodia. Na tradição judaica, porém, o livro dos Salmos é conhecido simplesmente como "Louvores". Aqui, exploraremos dez facetas diferentes desta extraordinária coleção de hinos e orações.

1) Os Salmos estão divididos em cinco livros, sgundo os estudiosos das Escrituras John Bergsma e Brant Pitre oferecem a seguinte divisão:

  • Livro 1: Introdução e Lamentos de Davi (Salmos 1-41)

  • Livro 2: A Ascensão do Reino Davídico (Sl 42-72)

  • Livro 3: Queda do Reino Davídico (Sl 73-89)

  • Livro 4: Reflexões sobre a Queda do Reino e o Exílio (Sl 90-106)

  • Livro 5: Alegria e Restauração do Templo (Sl 107-150)

2) Os Salmos têm vários autores. Embora o Rei Davi tenha escrito o maior número de salmos, muitos foram escritos por outros autores, como o Rei Salomão, uma figura chamada Asafe ou um grupo conhecido como os Filhos de Corá. Até mesmo Moisés é creditado como autor de um dos Salmos (Salmo 90).

3) Os Salmos frequentemente utilizam paralelismos. Os Salmos são obras de poesia hebraica, mas não rimam da mesma forma que a poesia em português. Os padrões métricos nos Salmos também não são claros para os estudiosos modernos. Mas o que encontramos repetidamente nos Salmos é a técnica literária do paralelismo. Muitas vezes, os Salmos são organizados de forma que dois ou mais versículos devem ser lidos como complementos ou contrastes.

4) Existem diferentes categorias de Salmos. Os subgêneros dentro do livro dos Salmos incluem Salmos de Lamento, Salmos de Ação de Graças (ou todah), Salmos Reais e Salmos Messiânicos. Nas palavras do Catecismo da Igreja Católica (2588), "Quer se trate dum hino, duma oração de aflição ou de acção de graças, de súplica individual ou comunitária, dum cântico real ou de peregrinação, ou ainda duma meditação sapiencial, os salmos são o espelho das maravilhas de Deus na história do seu povo e das situações humanas vividas pelo salmista".

5) Os Salmos são o livro mais importante do Antigo Testamento. No mínimo, há bons argumentos para defender essa afirmação! De todos os livros do Antigo Testamento, os Salmos são os mais citados no Novo Testamento e os mais comumente usados no lecionário da Igreja. Na introdução ao seu comentário sobre os Salmos, Santo Tomás de Aquino fez a notável afirmação de que "este livro contém o material geral da teologia como um todo".

6) Os Salmos são o livro de orações do povo judeu... e da Igreja. O Catecismo descreve os Salmos como "obra-prima da oração no Antigo Testamento" (2585). Esses cânticos de louvor, que eram tão importantes para o Israel do Antigo Testamento, continuam a ser rezados a cada hora de cada dia pela Igreja universal, tanto nas leituras da Missa quanto na Liturgia das Horas. Como afirma o Catecismo, "Rezados por Cristo e n'Ele realizados, os salmos são um elemento essencial e permanente da oração da sua Igreja. Adaptam-se aos homens de qualquer condição e de todos os tempos" (2597).

7) Os Salmos estão repletos de profecias. Um dos aspectos mais surpreendentes dos Salmos é a forma como eles continuamente apontam para Cristo e Sua Igreja. Talvez o exemplo mais famoso disso esteja no Salmo 22(21), que descreve a figura de Davi sendo despido de suas vestes e perfurado nas mãos e nos pés. Na cruz, Jesus se identifica explicitamente com este Salmo quando faz suas as palavras iniciais: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mateus 27,46). Embora comece em desolação, o Salmo continua profetizando um tempo de cumprimento futuro, quando "Hão de se lembrar do Senhor e a ele se converter todos os povos da terra" (Salmo 22, 28).

8) Os Salmos são sempre relevantes. Apesar de terem sido escritos há milhares de anos, os Salmos continuam sendo perenemente relevantes para o povo de Deus. Isso se deve, em parte, ao fato de que grande parte das imagens dos Salmos é profética: o Rei Davi aponta para Cristo; Jerusalém aponta para a Igreja; Sião aponta para o Céu; a Arca da Aliança aponta para Maria; e assim por diante. Mas também é porque os Salmos capturam de forma tão poderosa a profundidade e a amplitude da experiência humana. Este foi um ponto levantado por Santo Atanásio em uma carta a um amigo:

O livro dos Salmos tem, neste mesmo terreno, um dom e graça peculiares, uma propriedade de particular relevo. Pois junto às qualidades, que lhe são comuns e similares com os Livros restantes, tem ademais uma maravilhosa peculiaridade: contém exatamente descritos e representados todos os movimentos da alma, suas trocas e mudanças, de modo que uma pessoa sem experiência, ao estudá-los e ponderando-os, pode ir-se modelando à sua imagem.

9) Os Salmos nos unem em oração. O Catecismo oferece a importante observação de que a oração dos Salmos "é inseparavelmente pessoal e comunitária; diz respeito aos que a fazem e a todos os homens" (2586). Quando rezamos os Salmos, não estamos apenas rezando por nós mesmos. Em vez disso, estamos unidos a todo o corpo de fiés através do tempo (com todos os cristãos e judeus que nos precederam e que rezaram estas mesmas palavras) e do espaço (com todos os cristãos ao redor do mundo que estão rezando os Salmos neste exato momento).

Isso significa que, mesmo quando o Salmo que estamos recitando não parece se aplicar às nossas circunstâncias ou situação particular — por exemplo, eu me vejo rezando um Salmo de Lamento, mas na verdade me sinto muito feliz neste momento —, a bela realidade é que estamos rezando com e por todo o Corpo de Cristo. Mesmo que o salmo que esteja recitando não descreva meu estado emocional atual, ele se aplica a outra pessoa no Corpo de Cristo, e tenho o privilégio de unir minha oração à deles.

10) O próprio Cristo fala por meio dos Salmos. O Catecismo destaca o fato de que Jesus, como judeu devoto, rezava com os Salmos. Como apontam John Bergsma e Brant Pitre, isso torna os Salmos uma forma totalmente única de oração, uma vez que são as únicas orações que possuímos que foram inspiradas pelo Espírito Santo e rezadas pelo próprio Jesus durante o Seu tempo na Terra. Refletindo sobre este mistério, Santo Agostinho perguntou como Jesus, que é sem pecado e divino, ainda assim poderia ter rezado as partes dos Salmos que expressam medo, ou tristeza pelo pecado, ou outras emoções negativas. A solução de Agostinho foi simples: Cristo identifica-se com as palavras do salmista para rezar em nosso nome. John Cavadini (*) explica:

Isso significa que agora, sempre que invocamos Deus por medo, no mesmo momento em que dizemos a Deus que estamos com medo, estamos falando as palavras de Cristo. Ao falar Suas palavras, sabemos que estamos tendo a mesma experiência que ele teve. Mas, ao falar as palavras de Cristo, também estamos expressando não apenas nosso medo, mas também seu amor, pois o medo de Cristo é, em primeiro lugar, uma manifestação de seu amor por nós. . . . Essa é a "maravilhosa troca"! Cristo assume nosso medo e nós recebemos o amor de Cristo!

Ao se identificar com nossa frágil humanidade, Cristo assumiu nossas humildes palavras para que pudéssemos, por nossa vez, nos identificar com o Verbo que se fez carne por nossa causa.

Autor: Clement Harrold

Original em inglês: St. Paul Center


Nota:

(*) Professor de Teologia e Diretor McGrath-Cavadini do Instituto para a Vida Eclesiástica da Universidade de Notre Dame, EUA; nomeado para a Comissão Teológica Internacional em outubro de 2009 pelo Papa Bento XVI.