Bem-vindos à 1984! O Coronavirus Chinês E A Geolocalização Das Pessoas

03/04/2020

O Google diz que publicará dados de localização de usuários em todo o mundo a partir de sexta-feira para permitir que os governos meçam a eficácia das medidas de distanciamento social, adotadas para conter a pandemia do COVID-19.

Os relatórios sobre os movimentos dos usuários em 131 países serão disponibilizados em um site especial e "traçarão as tendências dos movimentos ao longo do tempo por região geográfica", de acordo com uma publicação em um dos blogs do Google.

O Trends exibirá "um aumento ou diminuição em pontos percentuais nas visitas" a locais como parques, lojas, residências e locais de trabalho, mas não "o número absoluto de visitas", diz a publicação, assinada por Jen Fitzpatrick, que lidera o Google Maps e a diretora de saúde da empresa, Karen DeSalvo.

Por exemplo, na França, visitas a restaurantes, cafés, shopping centers, museus ou parques temáticos caíram 88% em relação aos níveis normais, mostraram os dados.

Visitas às lojas locais inicialmente viram um salto de 40%, quando as medidas de confinamento foram anunciadas, antes de sofrer uma queda de 72%.

O ida ao trabalho é possivelmente mais forte do que se suspeita, pois o declínio nessa área é de 56%, portanto, mais modesto.

"Esperamos que esses relatórios ajudem a apoiar decisões sobre como gerenciar a pandemia do COVID-19", disseram os executivos do Google.

"Essas informações podem ajudar as autoridades a entender mudanças em percursos essenciais que podem moldar recomendações no horário comercial ou informar as ofertas de serviços de entrega".

Assim como na detecção de congestionamentos ou no fluxo de tráfego do Google Maps, os novos relatórios usarão dados "agregados e anônimos" de usuários que ativarem seu histórico de localização.

Nenhuma "informação pessoal identificável" - tais como a localização, contatos ou movimentos individuais - será disponibilizada, informou a publicação.

Os relatórios também empregarão uma técnica estatística que adiciona "ruído artificial" aos dados brutos, dificultando a identificação dos usuários.

Os governos da China, Cingapura e Israel solicitaram o monitoramento eletrônico dos movimentos de seus cidadãos, em um esforço para limitar a propagação do vírus, que infectou mais de um milhão de pessoas e matou mais de 50.000 em todo o mundo.

Na Europa e nos Estados Unidos, as empresas de tecnologia começaram a compartilhar dados de smartphones "anonimizados" para rastrear melhor o surto.

Até a Alemanha que adora a privacidade está pensando em usar um aplicativo para smartphone para ajudar a gerenciar a propagação da doença.

Mas ativistas dizem que regimes autoritários estão usando o coronavírus como pretexto para suprimir discurso independente e aumentar a vigilância. 

Nas democracias liberais, outros temem que a coleta e a invasão generalizadas de dados possam trazer danos permanentes à privacidade e aos direitos digitais.


Original em Inglês: AFP